segunda-feira, 12 de março de 2012

UMA VIDA DISTANTE

Semana passada eu a vi de uma maneira diferente.
Quando ela entrou no carro, percebi o quanto havia mudado 
não sei em quanto tempo.
Minha primeira reação foi de espanto! Como ela envelhecera sem eu perceber.
Como deixei de enxergá-la durante... meu Deus, quanto tempo?!
Uma expressão sofrida, de sobrancelhas fechadas, o rosto diferente do que eu lembrava.
Ao mesmo tempo, ela estava eufórica, talvez pela minha companhia. 
Observava tudo com olhos virgens! 
-Nossa, como ficou diferente, esse viaduto!
-Olha, alargaram essa avenida!

Sinceramente, tentei ocultar minhas lágrimas.
Suavemente ela passou a mão em minha perna...
Mas percebi nitidamente sua carência e solidão.
Uma vida passada... sem vida!
O tempo a maltratava impiedosamente sem chance de defesa.
Cada minuto pra ela, era uma hora.
Meu grito ecoou no nada, em silencio, como um socorro que se pede nos pesadelos e a voz não sai.
Minhas lágrimas corriam pra dentro, rasgando a face, o peito e alma, numa sensação de impotência...

Em seu sorriso admirando o normal do cotidiano, pra ela raridade,
eu tentava enxergar em qual momento eu permiti meu egoismo me afastar tanto assim.
E eu que sempre a admirei...
Olhos negros, cabelos lisos, longos... lábios carnudos.
Corpo de modelo, magrinha, mas de seios lindos
(e tantos anos me serviram, sem se preocupar com sua vaidade, quase nenhuma!)
Uma índia nato! 
E eu hoje com minha meia idade... sem saber o que fazer.
Pedir desculpas? Como?
Então permiti que acariciasse minha perna pelo tempo que quisesse...
Já que isso a fazia bem, apesar da timidez.
Permiti que viajasse em minha companhia, sem que ela soubesse que a minha fuga do transito intenso, era simplesmente pra prolongar ainda mais o nosso encontro.
Mostrei as mesmas velhas novas igrejas, arvores, praças que no tempo dela, ainda estavam em preto e branco!
E quando então chegamos no destino, seus olhos me fitaram com o MAIOR AMOR DO mundo e disse:
-Muito obrigado, filho! Sua mãe te ama muito! que Deus te abençoe.
Nesse instante, uma lágrima! Uma única lágrima escorreu e molhou seus lábios que sorriam sinceros.



2 comentários:

  1. Lembra do Pequeno Principe Passarinho????

    "Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos."
    Antoine de Saint-Exupéry

    ResponderExcluir
  2. "Mas percebi nitidamente sua carência e solidão."

    Bem como me sinto!

    ResponderExcluir