quinta-feira, 13 de março de 2014

UM DIA DESSES




Despediram-se sem dizer uma palavra!
Naquele silêncio, choraram sem uma lágrima. Prometeram com os olhos nunca mais se quer pensar um no outro. Os dedos fugindo suavemente pelas mãos dele deixavam a impressão de que não precisava disso. Podiam continuar amigos. Mas seria difícil.
Quase um sorriso ameaçou enfeitar-lhe o rosto, mas ele podia não entender. Virou as costas e partiu. Sem saber pra onde, ou até quando.

Terminaram da mesma forma que se conheceram. Ela no ônibus fazendo a última revisão para a prova na faculdade, com os cabelos caídos sobre a face voltada para o colo. Ele contando as moedas para pagar a passagem. Sem mais nem menos se olharam. Ela linda! Os olhos claros eram mais vívidos em contraste com a pele branca e os cabelos negros como os de uma índia. Olhos grandes. Perfeitos. Lábios desenhados milimetricamente pelo Artista maior. Ele sem saber se estava no lugar certo e na hora certa! Mas não podiam se negar naquele longo e único instante: deram o primeiro beijo nesse olhar.  E como se tivesse sido marcado esse encontro, sentou ao seu lado e não resistindo perguntou:
- Química?
- Medicina.
Não havia o que dizer, mas o sorriso na resposta era tudo.
- Muito prazer...

Viveram uma história de “Eduardo e Mônica!” Eram perfeitos. Seriam pra sempre.
A certa altura o pra sempre chegou ao fim. A perfeição se perdeu na apatia do amor. Viveram tudo que tinha de ser vivido e ao se completarem tornaram-se único! Dois corpos numa única alma! Não perceberam que com isso o sentido da alma gêmea se perdeu. Não havia mais necessidade do par. E o mais nobre sentimento que os uniam passou a ser algo costumeiro no cotidiano.

Ela mudou para Cuba e dele, não se teve mais notícias.
O que se sabe é que nem seu ego o encontrou.
Nunca puderam dizer um ao outro que estavam errados quando se despediram naquele silêncio profundo da tristeza do olhar. Eram mesmo feitos um para o outro, mas não tiveram tempo de corrigir os erros. 
Passados anos e anos; muitos anos (talvez dez, quinze... cem!) ela nunca se casara. Ainda se guardavam num cantinho da memória. Sua beleza ganhara uma maturidade que ofuscava o brilho daqueles olhos tão lindos. Chegara ao auge da sua carreira, era a única coisa que lhe completava nessa vida desde que se despedira da sua verdadeira.
E era verdade que nunca mais se encontrariam. Não fosse pelo casual destino e logo no exercício da sua profissão:
Numa consulta rotineira entra o próximo paciente. Não se reconhecem de início.
Ela de cabeça baixa terminando uma anotação, os cabelos caídos sobre a face voltada para a mesa, ele contando os passos e olhando algo que trazia nas mãos.
Olharam-se e aquele silêncio não era a forma mais hospitaleira dela receber seus pacientes, mas era a mesma forma em que ela disse pela primeira e única vez “eu te amo”.