Despediram-se sem dizer uma palavra!
Naquele silêncio, choraram sem uma lágrima.
Prometeram com os olhos nunca mais se quer pensar um no outro. Os dedos fugindo
suavemente pelas mãos dele deixavam a impressão de que não precisava disso.
Podiam continuar amigos. Mas seria difícil.
Quase um sorriso ameaçou enfeitar-lhe o rosto, mas
ele podia não entender. Virou as costas e partiu. Sem saber pra onde, ou até
quando.
Terminaram da mesma forma que se conheceram. Ela no
ônibus fazendo a última revisão para a prova na faculdade, com os cabelos
caídos sobre a face voltada para o colo. Ele contando as moedas para pagar a
passagem. Sem mais nem menos se olharam. Ela linda! Os olhos claros eram mais
vívidos em contraste com a pele branca e os cabelos negros como os de uma
índia. Olhos grandes. Perfeitos. Lábios desenhados milimetricamente pelo
Artista maior. Ele sem saber se estava no lugar certo e na hora certa! Mas não
podiam se negar naquele longo e único instante: deram o primeiro beijo nesse
olhar. E como se tivesse sido marcado
esse encontro, sentou ao seu lado e não resistindo perguntou:
- Química?
- Medicina.
Não havia o que dizer, mas o sorriso na resposta era
tudo.
- Muito prazer...
Viveram uma história de “Eduardo e Mônica!” Eram
perfeitos. Seriam pra sempre.
A certa altura o pra sempre chegou ao fim. A
perfeição se perdeu na apatia do amor. Viveram tudo que tinha de ser vivido e
ao se completarem tornaram-se único! Dois corpos numa única alma! Não
perceberam que com isso o sentido da alma gêmea se perdeu. Não havia mais
necessidade do par. E o mais nobre sentimento que os uniam passou a ser algo
costumeiro no cotidiano.
Ela mudou para Cuba e dele, não se teve mais
notícias.
O que se sabe é que nem seu ego o encontrou.
Nunca puderam dizer um ao outro que estavam errados
quando se despediram naquele silêncio profundo da tristeza do olhar. Eram mesmo
feitos um para o outro, mas não tiveram tempo de corrigir os erros.
Passados anos e anos; muitos anos (talvez dez,
quinze... cem!) ela nunca se casara. Ainda se guardavam num cantinho da
memória. Sua beleza ganhara uma maturidade que ofuscava o brilho daqueles olhos
tão lindos. Chegara ao auge da sua carreira, era a única coisa que lhe
completava nessa vida desde que se despedira da sua verdadeira.
E era verdade que nunca mais se encontrariam. Não
fosse pelo casual destino e logo no exercício da sua profissão:
Numa consulta rotineira entra o próximo paciente.
Não se reconhecem de início.
Ela de cabeça baixa terminando uma anotação, os
cabelos caídos sobre a face voltada para a mesa, ele contando os passos e
olhando algo que trazia nas mãos.
Olharam-se e aquele silêncio não era a forma mais
hospitaleira dela receber seus pacientes, mas era a mesma forma em que ela
disse pela primeira e única vez “eu te amo”.