quarta-feira, 7 de março de 2012

LOTERIA




Grande figura o Sr. Moreira! Barbeiro desde
adolescente, único filho, aprendeu o ofício do pai e
já com os seus 69 anos nem pensava em se aposentar.
Esperava que a sorte viesse num bilhete de loteria.
Aliás, esperava há longos 40 anos, quando o Júlio
César chegou na cidade com aqueles bilhetes coloridos
que prometiam grande riqueza.
Sr. Moreira comprava um único bilhete toda
quinta-feira e pelo que parece jamais conferiu se
havia ficado rico ou não.
Viúvo há quinze anos, tinha apenas uma sobrinha que o
ajudava a espantar o fantasma da solidão que vivia a
assombrar-lhe. O velho era tão querido que todo mundo
se preocupava com sua saúde. O tempo foi passando e o
coração do Sr. Moreira já apanhava mais do que batia.
Por pura ironia, numa segunda feira de outono, Júlio
César chamou os amigos no buteco e soltou a notícia
preocupado:

- O Sr. Moreira ganhou sozinho o grande prêmio!
Era pra ser uma festa, se não fosse a preocupação com
o coração do bom Moreira. E agora?
O velho ia morrer com a tão esperada notícia.
Depois do jogo de empurra, decidiram que o Júlio era o
mais indicado. Como era o mais moço e o vendedor do
cartão premiado, ele era a pessoa certa para conversar
com o Sr. Moreira. Estudaram uma maneira mais amena e
por fim, Júlio César tomou duas talagadas de Germana e
foi à barbearia:

- Ô Sr. Moreira!!! Como é que o Sr. acordou hoje?
Tudo tranqüilo?!?
- Graças à Deus, “Julim” e você?
- Tudo bom! Tudo bem! Sr. Moreira... é... hum...
- Algum problema, Sr. Julio César?
- Não, não!! Meu querido Moreira!! Me responda com
sinceridade! Se o Sr. Ganhasse sozinho na loteria
muito, mas muito dinheiro mesmo! Dinheiro que não dá
nem pra contar direito, o que o Sr. faria?

Os olhos do Moreira brilharam ao olhar pro nada!
Sonhou pequenas grandes coisas. Pensou por alguns
instantes enquanto um sorriso lhe rasgava o rosto.
Teve algumas lembranças que jamais seriam reveladas!
Depois de um infinito silêncio olhou para Julio que já
se agüentava mais de tanta ansiedade, e dando um
tapinha nos ombros lhe respondeu:

- É, meu caro Julio! Como eu não tenho nada nem muito
tempo, com toda certeza... eu lhe dava metade do
dinheiro.

Todos compareceram ao velório do Júlio César. Sr.
Moreira tentou socorre-lo mas foi em vão. O coração
parou naquele instante, pela emoção e susto. Talvez
pela certeza da promessa do amigo.
Mas o fato é que Sr. Moreira ainda viveu muito tempo e
cumpriu a promessa. No Túmulo do amigo foi construída
uma capela do mais branco e puro mármore! Está sempre
linda e florida todos os dias do ano.


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