Ultimamente eu tenho recebido
vários e-mails falando dos anos 80. Nessa hora, vem aquela nostalgia, uma
vontade de esquecer as contas da realidade e correr de volta para essa década,
como um garoto que sai da escola nas manhãs de junho e corre pra casa ao encontro
de sua... pipa!
É, mas eu não vou falar do que
todo mundo está falando não. Lógico que essa garotada de hoje jamais saberá o
que era passar uma tarde inteira jogando River Raide, Pac Man, Asteroides, no
velho Atari. Ta certo que o vídeo game deles é melhor do que o nosso, mas
pergunta pra eles o que é “Tico-Tico Fuzilado?” Nú! Aquilo tinha um paredão de
arrepiar qualquer Big Brother!
Outro dia eu estava reparando a
moçada chegando no colégio, todo mundo se encontra todo dia e é sempre com o
mesmo cumprimento: Três beijinhos, abraços, como se não se vissem há tempos!
Sabem como era no meu tempo? O cara escondia atrás da própria sombra para o
outro não vê-lo e quando chegava perto dava uma
P O R R A D A no cara e gritava:
- Hoje não!
A gente “ligava” o tal do Hoje
Não e quando se encontrava tinha que dizer “Hoje Não”, caso contrário tomava
porrada, era uma só, mas era uma porrada bem dada! O pior é que o vacilão que
apanhava não podia fazer ou falar nada!! Tava ligado!
Uma vez meu pai me deixou no colégio
e quando eu fechei a porta do Passat eu tomei um soco nas costas que não deu
nem pra pedir “bença”. Fiquei sem fala na mesma hora! Meu pai assustado queria
dar um Pau no Doró, reclamar com a diretoria, aquela coisa. Mas como é que ele
ia entender que eu tinha acabado de apanhar, sem mais nem menos por uma
brincadeira?
Lá na escola Vital Brasil (minha
quinta série), a gente brincava de Ranca! Quem lembra? Um objeto era escolhido
como o “SALVE-SE!” Podia ser a trave de futebol quebrada, a porta do banheiro
das meninas ou qualquer outro monumento estrategicamente de difícil
acesso. Soltava-se uma bola e todo mundo
chutava sem direção. O cara que tomasse a bolada tinha que correr até o
“salve-se” e bater lá, porque todo mundo deixava a bola pra lá e corria atrás
dele descendo a porrada! E não eram vinte e dois jogadores não, meu amigo! Era
uma escola na hora do recreio brincado de Ranca!
- É Ranca! - e bicudo na bola!
Isso pra não falar do Corredor
Polonês, Estrear o Novo Toco! Essas já eram brincadeiras mais amenas.
No Colégio Padre Eustáquio (minha
primeira sexta série) tinha um bambuzal no pátio. Era comum alguém pegar uma
casca com Pó de Mico e esfregar aquilo no outro. Isso eu fiz pouco, porque da
segunda vez que eu fui passar na gatíssima loirinha Daniela, me dedaram.
Chamaram meu pai lá outra vez, eu fui suspenso, e mais tarde eu seria convidado
a me retirar do colégio! Acho que foi por isso que me mandaram pro colégio
interno. Aquele lá em Cachoeira do Campo, indo pra Ouro Preto. Mas deixa o colégio
interno pra lá.
E a garota do Fantástico? Puts
cara! Que babaquice danada!
Tinha o Cazuza, a Plebe Rude,
Ojeriza, o Raul Seixas...
Os Titãs em sua melhor fase,
ainda tocando rock com o Arnaldo Antunes, a Rádio Terra FM...
Naquela época a gente subia no pé
de goiaba da casa do Padre à tardinha e ficava lá plantado até de noite só pra
ver a irmã do Lauro (a gostosa da Ana Paula) pelada depois do banho!
Acho que até o beijo era mais
doce e mais gostoso naquela época.
Talvez por que a tal liberdade tenha invertido certos valores.
Hoje o nu não é mais arte e toda hora está diante dos
nossos olhos. Belo ou não. A dança tem um lado tão vulgar que ofende suas
raízes.
Ainda bem que os grandes poetas da nossa época (Renato
Russo, Cazuza, Gonzaguinha, o bom baiano Raulzito), não estão mais aqui pra
ouvirem o que virou a musica baiana (Axé music, com raríssimas exceções) e o
Funk ... o Fiuk (sei lá como é isso!)
Tomara que cresçam logo as
crianças pra salvar a gerações vindouras!
Que a alegria de brasileira não
seja apenas o futebol, carnaval e feriado na segunda-feira..
Quem sabe o meu filho possa
reinventar a inocência, e novas brincadeiras em que não precise estar só. E que
ele não se iluda com aquela frase: “Vocês são o futuro deste pais!”
Tomara que a gente reviva sempre
os anos oitenta, porque os próximos vão demorar a chegar. Se é que vão chegar.